sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Um verão, quatro sorvetes e o futuro

Ah, o verão, tão quente e inspirador. Foi em um verão que tive a lembrança que mais guardo com carinho. Era de manhã, e eu quando pequeno, costumava passar as férias no interior de São Paulo, com minha avó, que sempre fazia os melhores doces com morangos, os meus preferidos até hoje. E naquela manhã, minha avó apertou minhas bochechas e me levou a um parque no centro da pequena cidade, típica de interior.

O sol estava quente, e ela tomou a precaução de passar bloqueador solar meloso por todo o meu corpinho de garoto de oito anos. Os brinquedos de madeira do parquinho estavam quentes e eu preferi brincar debaixo da árvore com a terra menos quente. Minha avó estava sentada num dos bancos coloridos da praça central, mas dessa vez eu não tive que decorar a cor, porque ela sempre escolhia o da cor laranja. E eu já estava grandinho pra ter alguém no parque olhando por mim.

Quando a sombra da árvore já estava menor e o sol começava a queimar a grama, uma garota sentou-se ao meu lado e ficou brincando com sua boneca e simplesmente pegou as folhas que eu tinha juntado pro meu carrinho bater, e as usou como alimento pra sua "filhinha". Foi quando me revoltei e puxei seu seu rabo-de-cavalo e arranquei da sua mão a boneca violentamente, confesso que na hora não imaginei o que minha atitude poderia me causar, mas depois de três berros descobri bem o que significa colher o que plantou.

Foi uma correria, minha avó ouviu de longe o berro da escandalosa e a mãe da garota não gostou nada de ver sua filha chorando com os cabelos todos fora do lugar, mas quando o motivo para aquele desastre foi revelado, todos caíram matando em cima de mim. E eu tinha apenas oito anos de idade e estava de férias.

Nos meus outros verões eu passei longe da casa da minha avó e sem puxar cabelos de meninas com bonecas. Mas quando eu voltei, já tinha dez anos e me obrigaram a pedir desculpas a menina escandalosa e sua boneca preferida rascada. Minha avó me ajudou a se desculpar e me acompanhou até a casa da garota, mas fui eu que a chamei para tomar um sorvete no dia seguinte.

O dia seguinte chegou como um foguete, um azar pra mim, e uma sorte pra menina que ia tomar sorvete pago com minha mesada. Estava quente, com muitas nuvens no céu azul que era igual ao azul dos olhos da garotinha, eu nunca tinha reparado nisso. Estava um dia de verão lindo para tomar dez sorvetes de uma só vez, mas eu só paguei quatro, dois pra mim e dois pra escandalosa, todos eram de morango, o melhor sabor da cidadezinha. Sentamos debaixo da árvora do parque, a mesma árvore que eu puxei seu cabelo.

No fim, nós rimos muito juntos e até tocamos algumas campainhas e saímos correndo juntos, e em todos os outros verões foi a mesma coisa, sorvete de morango e o sol a brilhar no céu azul, como os olhos da menina, que depois de sete anos, já era quase uma mulher, e então eu finalmente me deixei levar por aqueles berros e aqueles lindos olhos azuis, que seguem comigo até nos invernos gelados.

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