segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Viajante solitária

Quando não chove e quando a sua alma não consegue respirar, ela sai. Para onde?, você deve estar se perguntando, só com o tempo eu pude perceber.

Na primeira vez que a vi, ela era calma e sorridente, ria pro ar e pensava em algo bom, talvez uma lembrança alegre, por isso o sorriso tranquilo. Confesso que naquele momento eu não senti a necessidade de sua amizade. Ela me chamou a atenção, apenas isso.

Conforme o tempo passou, ela acabou fazendo parte da minha rotina e aquilo deixou de ser insignificante pra mim. Mesmo ela nunca me vendo, eu, de uma forma ou de outra, queria a amizade daquela estranha, que nem o nome eu sabia.

Descobri que ela não aparecia nos dias de chuva da pior maneira possível: quando choveu e nas ruas só aviam poças d'água. Nada de garota amigável. Felizmente, no outro dia, quando as gotas descasavam nas nuvens e o Sol gostava de brilhar, lá estava ela. Só que dessa vez, ela não trazia seu sorriso costumeiro e sim um rosto fechado, chegando a ser deprimente.

A partir dai, tornou-se parte da minha rotina observa-la e registrar suas emoções aparentes. E me divertia com aquilo, passando a anotar diariamente os adjetivos que faziam juízo as expressões das pessoas, eu não era mais exclusivamente da garota desconhecida. Apesar do tempo gasto do meu almoço, sei que aquilo era saudável pra mim, talvez até mais do que meu almoço propriamente dito.

A amizade da garota veio quando eu menos esperava. Nunca avia seguido ela pra saber até onde e porque percorria aquele trajeto, mas no dia em que a amizade dela por mim começou foi quando ela desistiu de ir ler no parque em frente a igreja.

Sentou-se ao meu lado, primeiramente pedindo licença, nesse momento eu fazia a anotação de um novo personagem da minha rotina: um vendedor de frutas, que só aparecia ás sextas. Quando pegou o livro e o abriu, consegui expulsar as primeiras palavras, e depois disso uma amizade estranha tinha nascido oficialmente.

Ela lia ao meu lado. E Eu registrava as expressões dos seres humanos os seu lado. Por inúmeras vezes não trocávamos nenhuma palavra. Num dos poucos dias em que conversávamos, ela me perguntou o que eu escrevia tanto, disse que tinha sido ela que me ensinará a observar e lhe dei as anotações sobre ela, com data e horário, e o último era sempre o mesmo. Vocês podem acreditar que eu não soube caracterizar o que ela me transmitiu? Imagino que, simplesmente, ficou surpresa, afinal, ela nunca me via, ali sentava, no mesmo lugar.

Tanto eu quanto ela tivemos coragem de dizer mais nada. Ela lia e eu anotava.

Isso se repetiu por muito tempo, até o momento que evolui de cargo e passei a almoçar na sede, mas sempre, no mesmo horário que olhava pela janela podia ver uma garota sentada, quieta, lendo. E sempre que me restava um tempo, registrava as faces alheias com cuidado e tentando ser o mais fiel possível a realidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pesquisar este blog