quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Carta, tanto para a vida quanto para a morte

São Paulo, 6 de Outubro de 2010
Minha vida,
Hoje, numa manhã azulada, estou lhe escrevo, talvez a vossa senhoria não seja propriamente dito a responsável pela vida que levei, mas quero informar para alguém que não estive contente nesses últimos dez anos. Não culpo ninguém especificamente, culpo a humanidade inteira e quem sabe você sempre esteve por trás de tudo? Ah vida, muitos dizem que você é doce como açúcar e colorida como arco-íris, mas para mim, você sempre foi negra como noite de lua nova e ardido igual pimentas do reino.
Sei que lhe parecerei uma velho infeliz, porém, não se engane, sou mais do que infeliz e ninguém me ajudou a mudar isso. Meus filhos, todos fugiram, minha amada esposa está na cama com outro. E eu estou comunicando a ti, que você de nada me adiantou, talvez seria melhor eu nem ter existido, então, quem sabe eu poderia ser um amigo imaginário de uma criança ingénua. Que nem suspeita que envelhecera sem ninguém, como eu.
Minha governanta, numa noite fria me perguntou sobre a morte e como sempre faço, respondi curto e grosso: Apenas espero que me visite logo, não aguento mais essa vida. Ela não se espantou mais e desistiu de tentar mudar meu pensamento, como tantas vezes já tentou. Apenas me deixou sozinho na grande mesa, como todos fazem.
A propósito, vida, se encontrar a Dona morte por ai, diga a ela que estou ansiosa para encontra-la, e que a qualquer momento estarei pronto para recebe-la, não se preocupe com hora nem lugar. Acho difícil vocês se tombarem, porque a morte é a ausência de vida, e infelizmente a vida em mim habita.
Com grande satisfação eu lhe diria adeus,
para a morte vir até mim.

Um comentário:

  1. Maravilhoso! Como os seus tantos textos né garota, continua escrevendo porque é lindo ser poeta. Beijos

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