sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Faça sol ou chuva um lindo dia vai nascer

Num céu de cor laranja, vermelho e amarelo formando um degrade, eu tentava inultimente tocar o mar com meus olhos, parecia tão límpido e puro, nunca tinha reparado no mar. Foi quando eu senti o vento bagunçar meus cabelos, podendo sentir todo o meu corpo, com aquela leve brisa vinda do mar. Talvez nem tão límpida e pura igual ao mar, pois aquela brisa passageira carregou tudo o que tinha de ruim em mim, e eu sim, estava me sentindo límpida e pura, como o mar.

Caminhei pela praia, não tinha ideia onde queria ou podia chegar. As pequenas ondas encontravam meus pés e levavam pro mar o que eu não precisava mais, deixando apenas a areia e meus pés molhados. E quando a nova pequena onda me encontrava de novo, eu fingia não conhecer seu efeito sobre mim e me divertia com aquilo. Uma pequena onda após a outra.

Naquele momento eu não podia mais pensar em nada, e tudo o que eu sabia fazer era observar. O céu ia se descolorindo quando me vi em um lugar totalmente novo perto de uma casinha na beira da praia, me aproximei e a primeira coisa que pensei depois da minha experiência com o mar foi quem seria a pessoa que morava ali, podendo sentir todos os dias o que eu tinha sentindo em uma única caminhada ao por do sol. Logo pude perceber que era solitária, só havia um par de meias pela varanda e uma xícara de café sobre a mesa, uma rede estendida e uma cadeira de balanço de frente pro mar.

Bati na porta e ninguém me atendeu, esperei pacientemente. Paciência que nunca tive. Depois de poucos segundos deu para ouvir o som de chinelos sendo arrastados pelo chão de madeira e um bocejo longo. Quando a porta se abriu, um homem vestido com regata e bermuda deixava trasparecer seu rosto de quem tinha acabado de acordar. Ficou me olhando de cima a baixo, parecendo desconfiado e ao mesmo tempo indiferente. Lhe perguntei como poderia voltar para o hotel cujo nome não é importante, ele me disse que era longe e que as ruas a noite não são lugares muito seguro para se andar a pé.

Sem nem perguntar meu nome, me chamou para tomar um café e para telefonar para o hotel de um jeito atencioso e preocupado. Não podia aceitar rapidamente, por isso usei as desculpas educadas prontas para as mais diversas ocasião. Mas ele já foi dizendo que eu poderia passar ali a noite e pela manhã me deixaria no hotel.

Não me deixou nem opinar, trouxe-me o café e me perguntou coisas comuns, coisas que perguntamos quando não conhecemos as pessoas. O céu estava preparando uma tempestade, era uma noite escura, mas com o calor de um dia de verão, talvez por isso os vaga-lumes estavam dançando na varanda iluminada apenas pela luz da lua cheia e por uma pequena lâmpada, que mal alcançava nossos rostos.

Foi uma conversa seguidas de surpresas e risadas, ele era um homem divertido e misterioso, seus olhos me revelavam pouco da sua personalidade, quem sabe a luz não tenha influenciado. Talvez naquele momento eu estava sendo transparente demais, o mar tinha me deixado pura e isso eu não queria esconder, nem de um desconhecido.

A noite voou, como pássaros migrando em busca de calor. E a chuva que caia, era tão calma que só seus respingos nós podíamos sentir. Ele me cedeu sua cama, e foi dormir na rede. Mas algo na madrugada não me deixava dormir tranquila, levantei e fiquei sentada na cadeira de balanço com um cobertor que não me pertencia, olhando as luzes dos barcos de pesca tão distantes. Não estava frio, mas o vento vindo do mar e da chuva não era exatamente quente, um desses ventos me deu a oportunidade de ver o rosto do homem que me cedeu a cama. Era calmo, como a chuva e puro como o mar e talvez como eu.

Acabei pegando no sono ali mesmo. Quando acorde de manhã, vi porque ele tinha escolhido morar ali: a arei branca, o azul do mar se confundindo com o do céu, ninguém, ninguém no seu mundinho privado. E eu? pude descobrir o paraíso modesto de um homem sozinho.

Lá estava ele, na cozinha preparando algo que não pude distinguir pela pouca pratica na cozinha. Me recebeu com um sorriso que não conheci na primeira vez que o vi e com um bom dia tão aconchegante que por um momento quis ter isso pra sempre.

Sentamos na mesa e tomamos o café da manhã em silencio, e quem quebrou foi ele, arrastando a cadeira e falando que ia ligar para um amigo que poderia me levar até o hotel. Ensaiei palavras de negação, não para ser educada, mas para poder receber mais daquela energia, daquele bem estar todo. Mas o que ele pensaria de mim.

Continuei em silencio, mas o que eu queria fazer era implorar por mais daquilo tudo, porque o dia anterior foi o melhor de minha vida. Ele, apoiado na pia, me perguntou o que eu achava e quando deixei ele me olhar nos olhos, parecia que ele sabia o que eu queria, sem eu nem ter dito uma palavra, talvez minhas lágrimas falaram por mim. Nós nos abraçamos, dois desconhecidos. No meu estômago borboletas e vaga-lumes dançavam e meu coração era quente e se eu deixasse ele seria capaz de dançar também.

A partir dessa manhã descobri que não era o mar, nem a brisa, nem os vaga-lumes, nem a luz da lua que me deixava tranquila. Descobri, no melhor dia da minha vida, que tanto com sol ou chuva, os dias nascem lindos quando ele está por perto.

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